quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Entrevista com Adelson Correia

                                           Entrevista:
        Falando um pouco das Flores de Ruanda
  As Flores de Ruanda é um Romance diferente e profundo, que cativa seu leitor do começo ao fim.

1 – Fale um pouco de você para os leitores.
Falar de si mesmo é difícil, mas vamos lá: sou geminiano, de meia idade, pai de duas garotas, Carol de 12 e Sacha de 23, no entanto, moro só; eu e o ócio residencial que me dá a tranquilidade para ler e escrever à vontade, sem distrações, exceto por uns chatos latidos do cachorrinho da vizinha, quando a ração rareia acolá. Sempre fui curioso acerca da diversidade do mundo à minha volta. Esta estupefação em relação ao universo material, social e psicológico, além de gerar-me uma cara de nerd ou de pirado inofensivo, fez-me estudar muito até adquirir um verniz de conhecimento geral — sei um pouquinho de tudo e nada ao todo — necessário à formação multidisciplinar de um escritor. Sou Administrador de Empresas nos Correios e Telégrafos, funcionário público federal, porque viver apenas da letra é para poucos. Do tipo boa-praça, nunca tive dificuldade em fazer amigos colecionados sobre mesas de bares e rodas sociais variadas, quase todas legais. Destas amizades e da interação com elas, surgiu-me, personificada em fonte generosa, uma massa rude que moldo para criar personagens, razoavelmente, convincentes, expondo-os em experiências narrativas factíveis a qualquer um que os leiam.

2 – Como e quando começou a escrever.
Sempre gostei de escrever, mas somente criei coragem de elaborar textos literários quando me julguei minimamente conhecedor das regras da língua portuguesa. Não dava para ser escritor na burrice em que crescia. Percebi que tinha dom para escrever, por meio das redações em sala de aula, em tenra idade, mais ou menos, quando troquei os carrinhos pelas garotas.

3 – De onde veio a ideia para esse primeiro livro.
    A partir de julho de 1994, começaram a aparecer nos noticiários televisivos do Brasil, reportagens chocantes sobre os campos congoleses de refugiados do genocídio ruandês. Imagino que à época em que Williams Bonner era menor estagiário na Globo. Imagens de crianças à míngua me cativaram e escrevi um conto, em forma de protesto contra toda aquela covardia. Se não tinha bala para encaminhar à testa dos brutos, mandei texto nos malvados. Intitulava-se “Chope no Lebron”. Deixei-o quieto por muito tempo. Passei os anos da juventude submisso à tentação do credo materialista vulgar, até meados de 2008, quando uma gripe forte e malcuidada, ao me aproximar de Deus, fez-me obediente e culto de uma hora para outra e resolvi saborear o tal do “Chope no Lebron”, de novo, na esperança de refazê-lo entre outros, como terapia contra a abstinência das tentações de outrora ainda vividas n'alma latejante. Tive de buscar informações sobre o genocídio ruandês que não dispus em 94, época em que nem internet popular existia. Deparei-me com uma imensa fonte de dados sobre a catástrofe ruandesa e percebi que, num mero conto, não caberia tanto assunto. Daí, em termos resumidos, o surgimento imperativo do romance “As Flores do Ruanda”.


       4 – Fale um pouco do mundo que gerou a ideia desse livro.
Melhor que meu depoimento sobre este tema é ver imagens e ler matérias sobre o fato. Basta digitar no Google “Genocídio Ruandês” para se ter acesso a informação sobre a maior catástrofe humana após a Segunda Guerra Mundial. Quem tiver a oportunidade de ler em inglês terá muito mais conteúdo à sua disposição. Em resumo, trata-se de um episódio histórico decorrente do massacre de cerca de 800 mil indivíduos das etnias tutsi e twa perpetrado por hutus. Uma coisa impensável, de louco. Só lendo para entender

5 – Indo contra toda a lógica da literatura atual, onde a preferência é por livros de literatura fantástica, você resolve escrever uma mistura entre romance e história. Não teve receios? O que te fez partir para esta temática?
Esta é uma boa pergunta. Quando iniciei “As Fores do Ruanda” não tinha a mínima noção do mercado literário nem sabia aonde iria dar a minha empreitada. Iniciei por um capricho e tomei gosto pelo texto, aos poucos. Não sabia, por exemplo, que existiam blogues como o Arca literária sobre literatura. Quando terminei o livro, busquei uma editora até encontrar a Lp – Books que me deu a oportunidade de publicá-lo de forma independente (sem contrato assinado, como eu quis). Sendo assim, não me inclinei a escrever sobre a moda corrente, literatura fantástica, pois não tive ambições especiais quando comecei a escrever “As Flores do Ruanda”. Existe uma verdade probabilística na literatura: quem é bom vence as barreiras e se estabelece, mais cedo ou tarde. Torço para que meu trabalho seja bem aceito pelo público e crítica literária o que está acontecendo, paulatinamente, como condiz de ofício a um principiante recatado.

6 - Conte aos leitores um pouco sobre As Flores do Ruanda.
As Flores do Ruanda é um romance que conta as aventuras de uma jovem médica americana no Ruanda a serviço da Cruz Vermelha, Dra. Isabelle, uma pobre azarada que, sem querer, meteu o bedelho onde e quando não devia: o período do genocídio ruandês, catástrofe humana de proporções épicas. Paixão, solidariedade, guerra, perdão, expiação, renúncia, ódio, intolerância e heroísmo formam um fluxo principal engrenado na sequência narrativa do livro. Trata-se de um romance que traz a compreensão do desencadear dos eventos que motivaram o conflito e onde é dada voz aos principais agentes envolvidos: FAR (Força armada ruandesa), Interahamwe (Milícia civil sanguinária), FPR (Frente Patriótica Ruandesa), Igreja, França, Bélgica, Estados Unidos e ONU. Pela ação dos personagens entendemos as relações entre as três etnias envolvidas na guerra civil, hutus, tutsis e twas. Ao adquirir-se o livro, paga-se por um produto e leva dois: literatura e história concomitantes.

7 - Teve dificuldades de publicar seu livro? Conte-nos um pouco dessa trajetória.
Não tive dificuldade para publicar este livro, pois optei por uma produção independente e mais palatável no meio editorial. Adquiro da Editora o livro a baixo custo e revendo pelo preço de capa, ganhando a diferença. Na realidade, poucos vendo. A maioria eu dou como forma de divulgação. Sinto prazer em ver as pessoas, após lerem as Flores do Ruanda, tecerem elogios. O que a Editora vende é dela, pois não assinei contrato que, por exemplo, me daria uns 10% do preço de capa sobre todos livros vendidos. E por que não quis assinar? Para não me ver obrigado a uma proposta que não me seduz; por acreditar na qualidade deste romance e para estar livre para negociar os direitos autorais, principalmente de traduções, com uma editora maior, após o livro ficar bem conhecido. De início, expus parte do texto no site Mesa do Editor e recebi convites para publicação. Foi só escolher a proposta mais interessante. A minha meta principal é chamar a atenção de uma editora de língua inglesa, com vistas à tradução e incorporação da obra no mercado externo. Como o tema de “As Flores do Ruanda” é o genocídio, compreendo que, para os brasileiros, é incomum, mas não para sociedades com interesse e visão global do mundo mais presente na sua cultura. Dá para perceber que, até então, tenho tido só despesas; sendo otimista, as vejo como investimento de provável retorno.


8 – Por que preferiu usar contexto africano como cenário para a história.
Ao iniciar a As Flores do Ruanda não tinha grandes pretensões literárias. Escolhi um tema que era próximo ao meu conhecimento à época em que o escrevi. Não o fiz seguindo um modismo literário, pois As Flores do Ruanda era-me um assunto imediato sem maiores aspirações. Após pronto, cuspido, lambido e revisado 1, 2, 3, 4... n-vezes, percebi que é um livro com qualidade suficiente para pleitear notoriedade.

9 – Você participou de antologias? Qual a sensação de dividir o espaço com outros autores?
A sensação é a de passar em um vestibular, pois, para estar em uma antologia, de algum modo, o escritor vence uma concorrência contra outros colegas, que também preitearam participação. Quando a inclusão é mediante convite e não por seleção de texto, mesmo aí se nota critérios de opção da parte de quem conduz a antologia.

10 – O que você falaria para nossos criativos leitores que estão iniciando sua empreitada literária.
O conselho principal é a busca constante de melhoria e, usando um lugar-comum atual, a excelência. Estudem muito criação literária, gramática e leiam bons autores sempre. Procurem o seu foco, o que tiverem de mais natural ao escrever e não sigam por modismos, pois é melhor escrever bem para poucos que mal para muitos. A pior sensação é perceber que o leitor, ao terminar seu livro, mostra-se indiferente e, sem um comentário elogioso, esquiva-se pelas prateleiras. O mercado é muito seletivo e, um dia, cobra a fatura de quem não se prepara e lança livro por lançar carente de cuidados necessários. Livro ruim que vende muito empurrado pelo marketing literário tem vida curta e morre de verdade, não deixando vestígios na história da literatura. Livro bom é livro eterno. Relacionem-se, por meio de blogues, mídias sociais, pelo Skoob e encontros literários na sua região. Para sobreviver, ao menos no início, procurem não depender, exclusivamente, da literatura: em paralelo, participem de concursos públicos, tentem outras profissões ou montem um negócio, pois, no princípio, a vida do escritor é de gasto e de algumas decepções. Ser escritor, em si mesmo, é difícil. Se eu tiver a ventura de reencarnar, se possível, serei cantor, não escritor. De mp3 em punho ou de gogó afiado, solto a voz numa praia e todos me ouvem. Por outro lado, ser lido depende da vontade do destinatário da mensagem. O livro não faz o barulho imperativo da música. Como em  um videogame vocês irão vencendo as fases. Não se pressionem pelo reconhecimento público imediato. Muitos escritores fazem sucesso, justamente por serem bem sucedidos em outras áreas de atuação. Acima de tudo, escreva por prazer. Só faz bem o que bem se faz.
           
                  Espero que gostem, queridos leitores e se quiserem escolher o livro que desejam saber mais deixe seu comentário neste post.
                                                                   
                                                                  Amara Fernanda 
                    

2 comentários:

  1. Oi, Amanda, muito obrigado pela entrevista. Ficou ótima, assim como tudo no seu blog. Um abraço e sucesso para você, amiga. Beijos.

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